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quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

«A Metafísica Perante a Inquietação Científica» - Fernando C. Pires de Lima






        «A METAFÍSIDA 
           PERANTE
 A INQUIETAÇÃO CIENTÍFICA»
FERNANDO C. PIRES DE LIMA
PREFÁCIO: de S. Ex.ª Rev.ª o Snr. Arcebispo do Porto
LIVRARIA TAVARES MARTINS
PORTO - 1937


 

´A conferência que hoje se publica foi proferida em Braga e no Porto. Na Roma Portuguesa (Salão Recreativo), presidiu a veneranda figura de Sua Excelência Reverendíssima o senhor Arcebispo de Braga, Primaz das Espanhas, e na Capital do Norte o meritíssimo Juiz Senhor Doutor Tavares da Costa, na Associação dos Estudantes Católicos. 'Ciência e Religião não são incompatíveis'. Onde termina a Física principia a Metafísica.
Não teve esta palestra outro intuito que não fosse vulgarizar um velho tema, eternamente novo, Se das palavras que vão ler-se alguma coisa de útil se puder tirar, dar-me-ei por satisfeito.`
                                                                                                                           
                                                                                                                                                  F. C. P. L.


PREFÁCIO


Um dia, S. Martinho, seguindo pelas margens do Loire, apontava aos seus monges, que o acompanhavam, os pica-peixes, que a seu lado passavam, voando como relâmpagos, ao longo da corrente: ´Vede como estas aves mergulham e agarram os peixes que nadam à superfície das águas: assim fazem os demónios com as almas, que não se escondem nas profundezas da vida cristã.`
O Sr. Dr. Fernando de Castro Pires de Lima, imitando o santo e sábio bispo de Tours, propôs-se indicar à nossa gente estudiosa, que vive na ´inquietação` espiritual, as profundezas do saber tomista, onde não chega a agitação inquietante das águas superficiais das correntes filosóficas, pretensamente científicas, mas onde a inteligência humana disfruta a tranquilidade e com ela a paz.
De pescar à superfície, já se confessava cansado, no seu tempo, o festejado escritor Ramalho Ortigão nas palavras desalentadas que deixou algures: ´A tristeza mórbida dos nossos ideais procede desta crise em que se envolve o pensamento moderno: faltou-nos a segurança estável da fé e ainda não encontramos fundo suficientemente sólido em que mordesse e agarrasse a âncora da certeza científica. Naufragamos todos. De conjetura em conjetura, de hipótese em hipótese, vamos sucessivamente dando à costa uns atrás dos outros, alucinados, na política, na arte e na crítica, pela miragem do facto positivo, cujo fundo real não atingimos, nem explicamos, nem compreendemos» .
Lançado injusto descrédito sobre a ´ metafísica` , o ´pensamento moderno`, armara-se em cavaleiro da ´certeza científica` e, alucinado, foi discorrendo, por todo o mundo físico, em demanda do ´facto positivo`, onde, graças ao extraordinário desenvolvimento das ciências da natureza, suspeitava encontrar, qual moira encantada, a chave de todo o saber humano.
Infelizmente, a ansiedade do sábio, em vez de acalmar, aumentou e com ela a necessidade de interrogar sucessivamente o ´facto` cientificamente estudado, pois que o espírito se não aquieta enquanto lhe não derem a razão profunda e por fim  a razão última do ´facto positivo`.
Debalde os sábios aventaram e ensaiaram soluções agnósticas, mais ou menos radicais: a ansiedade persiste, se é que não degenera agora na ´inquietação` da própria ciência, que entra a desconfiar de si mesma, da solidez do seu saber, sendo que nem sequer hão de faltar sábios que a declarem em regime de bancarrota.
Verdade seja que a virtude nunca esteve nos extremos: nem as teorias empíricas sobre os problemas da física celeste e terrestre, que a ingénua ciência medieval propunha, mereciam a confiança que geralmente lhe creditavam os mestres da escolástica até aos alvores do século XVII, nem a derrocada da ciência moderna é tal que a reclamaram alguns pensadores contemporâneos.
A filosofia da física, a metafísica, não pode invadir o campo daquela, pois não fica ao alcance dos seus instrumentos, dos seus critérios e dos seus métodos. Uma completará a outra; as duas fornecerão ao espírito todo o conhecimento humano das coisas, do fenómeno e do númeno - como diria Kant se ele tivesse conseguido sondar o ´fundo real do facto positivo` .
Dispensando-se de tomar o dado da ciência, o facto positivo, como ponto de partida, o filósofo construirá na fantasia, mas edifício sólido jamais levantará: esquivando-se, em nome da ciência, a penetrar até ao fundo real do facto, o cientista submeterá, por seu turno, o saber a um violento processo de decapitação e a razão ao lendário suplício de Tântalo, cujo termo será naturalmente a ´inquietação` e por fim o desespero.
O ilustre conferente, indicando factos que requerem certamente uma razão mais profunda do que a estritamente científica, aponta à nossa mocidade estudiosa o abismo, para que a tempo o naufrágio, e a rota segura e luminosa que trilhou Santo Tomás, para que resolutamente a siga. 
Obra eminentemente humanitária e cristã, já que Cristo é a verdade e a salvação.
Merece todo o aplauso. O nosso aqui fica, formal e sincero.


Braga, 3 de Dezembro de 1936.


                            António, Arcebispo Primaz





O Materialismo científico foi dogma durante mais de um século. Pôde assim o transformismo entrar com todos os seus exageros a ser a base indiscutível e científica da vida.
Dois livros preciosos de Grasset fizeram impressão no meu espírito: ´A Ciência e a Filosofia` e ´Os Limites da Biologia` : foram, por assim dizer, os alicerces sólidos do meu modo de pensar, que , cada vez mais, se tem enraizado no meu cérebro.
Quando, há meia dúzia de anos li, pela primeira vez, o livro, que reputo sensacional, de Jacques Maritain, ´Anti-Moderne` , e reparei na maneira como este filósofo se referia à ´Filosofia do Organismo` do insigne biologista alemão Driesch, imediatamente adquiri e li esta obra. E juro-vos que não perdi o meu tempo. Vê-se com prazer que uma grande número de sábios se aproxima da Escolástica e a preconiza como filosofia científica.

Driesch precisou, para explicar uma série de fenómenos verificados no laboratório, de recorrer a Aristóteles e a S. Tomás. Sentiu necessidade do animismo aristotélico, o que levou Maritain a escrever: ´é difícil não ver aí  um sinal de inesgotável fecundidade nas conceções de  Aristóteles e dos velhos mestres do século XIII, como possibilidades abertas nos nossos dias ao pensamento tomista, o único capaz de assimilar, numa síntese viva e progressiva, os materiais acumulados pela ciência` .


Em Portugal, também o transformismo está sendo seriamente criticado. Meu Pai, o Prof. Dr. J. A.
Pires de Lima, já tratou disso no seu trabalho: ´Lei Biogenética fundamental`. Por sua vez, o sábio Prof. Dr, Mendes Correia no seu estudo : ´A controvérsia transformista` , diz: ´Quando nos primeiros anos  deste século, fizemos os nossos estudos superiores, ainda o transformismo era ´Ciência oficial` .


É, hoje, entre os biologistas vivos, um dos maiores o Prof. Rémy Collin de Nancy. Já veio a Portugal, é autor do livro magnífico ´Física e Metafísica da Vida`, que marca um lugar de destaque em defesa do animismo.





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